terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Morrendo pelas causas alheias, morrendo pelas causas erradas

Salvador encontra-se em uma guerra. O cidadão soteropolitano sabe bem a que me refiro. Desde que foi deflagrada a greve por parte dos policiais militares de muitas das cidades da Bahia, e, em especial, os de Salvador, o pouco de ordem e paz que se presenciava por aqui, perdeu-se por completo.

No momento em que escrevo este texto, mais de cem pessoas já foram assassinadas em aproximadamente oito dias, isso, é o que é mostrado nas estatísticas oficiais, mas não sabemos se o número real de vítimas é ainda maior.

A onda de ataques, assaltos e assassinatos, originou-se no dia 02 de Fevereiro. Coincidentemente(ou não) mesmo dia de um importante festejo local. A greve, há muito foi considerada ilegal, e uma decisão judicial fez este fato notório, porém, os grevistas pareceram desdenhar da justiça e do estado, e nem mesmo acenaram com a possibilidade do cumprimento desta ORDEM JUDICIAL.

Muito fala-se na participação de militares em atos de vandalismo, que vão do roubo de viaturas, ao tombamento de veículos de transporte público em meio a ruas, passando até mesmo pela suspeita de alguns dos homicídios cometidos nos últimos dias.

Prefiro não me pronunciar neste sentido, mesmo tendo uma opinião formada quanto a esta situação. Mas, vai que algum militar lê este texto e decide tirar satisfações comigo? Eu não tenho armas de fogo para realizar a minha proteção, e, todos sabem que truculência no trato com os civis, é algo que não falta por meio de muitos agentes desta corporação, vide este caso: http://g1.globo.com/bahia/noticia/2012/01/cozinheira-perde-visao-ao-ser-agredida-em-show-no-pelourinho.html.

Também não posso deixar de falar sobre a solicitação de anistia para os participantes do movimento. Quais são os torpes crimes cometidos, que despertam o temor do julgamento e da condenação? Pelo pouco que resta de dignidade a este povo, não a anistia.

Apesar de não ter os meios necessários para atribuir-lhes a autoria dos atos de vandalismo, ainda assim, irei atribuir de maneira pertinente, a este movimento ILEGAL grande parte da responsabilidade pelas mortes e prejuízos materiais sofridos por muitos dos cidadãos soteropolitanos. Ora veja, o conjunto de leis que nos rege, impede a estes senhores de realizarem este tipo de manifestação, mas, ainda assim, eles passam por cima desta resolução. Uma decisão judicial invalida a greve, e, consequentemente, os obriga a retornar as suas normais atividades. O que acontece? Ouvidos de mercador para a nossa justiça, e, também para a nossa população, que abandonada pelos agentes da segurança pública, vê-se a mercê de meliantes de toda espécie.

Credito as mortes recentes à negligência desta classe que simplesmente virou às costas a aqueles que deveria defender. A indiferença dos mesmos, selou dezenas de destinos de modo irremediável. E, ao fim de tudo isto, o que receberão os vitimados pelos ataques neste período? E, o que receberão os familiares dos assassinados nesta onda de violência? Quem irá devolver a população todo o tempo perdido, as tarefas não feitas, a auto-estima, enfim, a vida normal, que parece ter perdido-se a aproximadamente uma semana?

Obviamente, a resposta para as questões “1” e “2”, são dois enormes “nadas”, e a resposta para a terceira questão, é: “ninguém”. Então, quem se beneficia desta terrível celeuma, senão a corporação que advoga em causa própria, e, no final desta greve, quando sairmos dos escombros da cidade que conhecíamos, eles estarão gozando de um considerável aumento salarial, enquanto, muitas famílias estarão chorando suas perdas. Mas, espero que não esqueçam que o sangue que hoje lava as ruas soteropolitanas, foi , em parte, derramado sem cerimonias, pelos senhores policiais, direta, ou indiretamente.

Esta é a guerra cívil soteropolitana. Não objetivamos derrubar um ditador, não visamos a desocupação de nossas terras por parte de estrangeiros, a motivação de toda esta balbúrdia nem mesmo é para um bem comum. A motivação existente é exclusiva, e, porque não dizer, egoísta. UMA classe, decide mudar o destino de uma cidade, ou mais, de um estado, pelos aumentos dos SEUS SALÁRIOS. Só isso, e que morram quantos forem necessários para que esta solicitação seja atendida. Somos meros peões neste tabuleiro, todos, sofrendo com a possibilidade de morrer por uma causa que não é nossa.

Para finalizar, cito a palavra “massacre”, largamente utilizada pelos insurgentes. Esta era uma alusão a possível invasão da Assembleia Legislativa, que por eles foi invadida(mais um ato ilegal). Façam-me rir. Massacre? Massacre foi o que presenciou-se nas ruas da cidade. O que ocorreria lá, seria um confronto entre duas forças armadas, em que os reclamantes teriam uma excelente oportunidade de mostrar que a sua causa valia as suas vidas. Mas, não. Houve muito falatório, a utilização de suas famílias como proteção, e nenhuma gota de sangue foi derramada por lá. Claro, que isto não ocorreria. Pois, nesta "revolução" tosca, o único sangue derramado, é o de inocentes. É o de quem nada tem a ver com esta estupidez.