quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A panaceia

"Fui!" e saí. Era esta a minha despedida. Apressada, voraz, seca e que não esperou por retorno.
Saía de casa com planos de compra que lutavam loucamente contra a verba disponível, fogo nas ventas, um óculos escuro na fuça e ideias que oscilavam entre raiva e tristeza... a resignação era o meio termo.

Muni-me do meu maço de cigarros antes de sair. Qualquer vício(ou projeto dele) é bom amigo em tempos que estes faltam. Comprei uma garrafa de vinho e a bebi no caminho até o ponto de ônibus. Caminho este, que a minha impaciência tornara maior, já que quanto mais o ônibus demorava, mais eu avançava em sua busca.

O vinho "cobrou o seu preço". Não veio a embriaguez, mas sim um mal estar único.
Uma fraca porém incômoda dor de cabeça, aliada a um crescente torpor, que me levou a sentar numa das elevações do piso do ônibus num estado de "semi-consciência".

Pensei que era a morte se avizinhando. Eu era cada vez menos dono de minhas ações e até um "teste vocal" foi feito ainda no ônibus, já que eu pensava estar perdendo a fala(Ação esta, que foi percebida por uma mulher que estava próxima a mim, e a mesma certamente atribuiu tal ato a algum estágio de loucura e este passou a ser um dos infindáveis itens que compõem a lista dos motivos pelos quais a maioria pensa que sou completamente pirado).

Chegando ao meu destino, água na cara e na garganta, a viagem continua. Ainda que eu estivesse bastante hesitante, me encontrava quase completamente consciente. Pus-me a caminhar. Enquanto caminhava, vi minha mente ser tomada por um turbilhão de ideias. As idas à cidade tem este efeito sobre mim... os grandes prédios, a intensa movimentação, pessoas desconhecidas que trafegam em passo acelerado... tudo me leva a pensar num número absurdo de coisas... todas elas claras e sólidas. Certamente a panaceia estava lá, presente em meus pensamentos, mas o pudor me impediu de fumar e assim que tentei registrar as ideias, as senti dissolvendo-se, mostrando que estas eram de uma solidez absolutamente falsa, tal qual a ideia "sólida" que tive antes de sair de casa(uma letra que fala sobre um homem que já não se suporta, que deseja rasgar a carne presente em seu rosto, por sentir asco pelo mesmo... sim, ser "eu", é algo péssimo).

Sem cigarros ou ideias, prossegui e dediquei-me ao meu mais novo "hobby"(fotografia), e ao avistar dois ângulos de uma paisagem, não pude evitar um "puta que pariu", seguido de um sorriso tão idiota quanto eu... minhas recentes atividades como "fotógrafo", tem me levado a ver belezas escondidas, coisas pequenas e comuns que tem dito muito a mim, ainda que eu não saiba o que está sendo dito... só está. Algumas coisas ditas são como a vida, simplesmente não fazem sentido algum... estas coisas, ao menos, tem conseguido me tornar alguém um pouco melhor, ainda que por alguns instantes.

Comprei o que era necessário e fiz o caminho de volta entre fotos, pensamentos, a garota bonita que passou
por mim(e que como todas as mulheres que passaram pela minha vida, não teve vontade alguma de permanecer por lá) e enquanto destinava a minha atenção às sacolas plásticas e à escrita deste texto, quase não notei o mundo que passava ao meu lado, além da janela do ônibus.

Retornei, também, tendo a certeza de que gastei mais do que gostaria e comprei menos do que era necessário.

Regressei ainda muito mal, mas, não tanto quanto na saída. Talvez fosse o tempo, tentando fechar feridas. Talvez estivesse recobrando a consciência de que "Se o que importa não importa, não dá nada ser irrelevante". We are who we are, isso é um fato, mas até que se acostume com quem você é... "Não dá nada ser irrelevante", outro fato, mas certamente, ser relevante é uma insignificância mais divertida. É isso, um dia eu me acostumo.


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