quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Torcer

Como prometido anteriormente, irei desfechar o meu comentário que a priori foi dividido em duas partes, cada uma delas contando com uma diferente temática e também com um diferente título. Enquanto “pensar” abordava uma das vertentes mais significativas das nossas vidas, que seria: o pensar, o refletir, o imaginar as situações cotidianas, ou excepcionais e conseqüentemente as maneiras que encontramos para tentar adequar a elas as nossas reações e porque não dizer, nosso comportamento como um todo. “Pensar” também falava a respeito do “certo”, do “errado”, e de quão confusas, equivocadas e até mesmo mesquinhas podem ser estas conceituações.  “Torcer” é uma espécie de evolução de “pensar”, não apenas nos textos presentes neste espaço, mas na vida. É uma evolução porque em muitos momentos as expectativas, as demandas ilógicas, derivam de respostas incompletas, de enormes lacunas explicativas na condição humana. Ou seja, pensamos, pensamos e buscamos certezas, buscamos o pleno domínio da nossa existência. Entretanto, conhecemos mais problemas que resoluções, mais mistérios que respostas.  Então, o nosso poder de deliberar cobra um altíssimo preço: a ciência de que pouco sabemos. Milhares de anos e bilhões de pessoas e ainda assim a vida é um gigantesco enigma, um quebra-cabeças cheio de espaços vagos. Creio eu, que na mente daqueles que tentam pensar suas existências, estes vazios equivalem-se a “pequenos universos”, “infinitos” nos espaços que ocupam. Então, nestes vazios infinitos, cabe todo o desespero existente, digno de quem muito tem e ainda assim sabe de muito pouco e a partir daí, nos vemos obrigados a torcer. A esperar pela vida eterna, e na impossibilidade de tal desejo, nos resta TORCER por uma vida longa e tranqüila(se possível, bem sucedida), a ansiar pelo amor pleno e ao nos defrontarmos com mais uma impossibilidade, descemos os nossos parâmetros e inventamos amores, modificamos a visão que temos daqueles que estão em nosso entorno, e então, criamos nossas torres imaginárias, nos enclausuramos nelas e TORCEMOS para que “pares encantados”, seres fantásticos, nos resgatem e nos façam felizes para sempre. No Brasil, nos vemos obrigados a TORCER por uma assistência médica minimamente digna, por um sistema de transporte coletivo satisfatório, por justiça e por tantas outras coisas completamente básicas. Não acho necessário dizer que todos os itens acima citados são de difícil obtenção (alguns deles nem mesmo podem ser obtidos) e ainda assim, todo “santo dia”, aguardamos ansiosamente pela realização destes e de outros desejos, porque são eles os espaços em nossas divagações, são estas as falhas em nossa compreensão, é isto o que não podemos ter: o domínio sobre o que somos, a aplicação de regras sobre o que realmente é essencial e como se não bastasse, não temos nem mesmo meios para chegar a este “controle”. Por isso, nos vemos obrigados a torcer, nos vemos obrigados a acreditar, nos vemos obrigados a contrariar toda a lógica existente, a fim de aplacar as mais torpes sensações provenientes da finitude. Nos vemos obrigados a prescindir da lógica e na falta de algo para preencher as nossas vidas, decidimos por ocupar as lacunas com felicidade(ou com as melhores possibilidades). Ainda que, “por vezes” ela seja irreal. Ainda que, “por vezes” ela seja impossível.

2 comentários:

  1. Sem duvida nao haveria forma de expressar melhor essa tese. O pensar e o torcer caminham em uma infindavel constancia!

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  2. Que bom que você concorda com o que disse. "Não haveria forma de expressar melhor essa tese" me parece um pouco exagerado. Mas, enfim, obrigado pela atenção e volte sempre, pois, as "portas" estão abertas.

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