quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Pop in Rio

Um dos acontecimentos mais relevantes dos últimos dias foi a realização do festival musical “Rock in Rio” aqui no Brasil. Como o filho pródigo ele retornou às suas origens, maduro e mudado.  Após 10 anos perambulando pela Europa ele parece ter adquirido alguns novos costumes e potencializado outros. Apesar de seu nome, ele nunca foi exclusivamente um festival de rock. Outros estilos já foram abrangidos pela sua benevolência e pela visão de mercado de Roberto Medina que parece acreditar que “quanto mais, melhor”. Entretanto, esta mescla de estilos nunca foi tão evidente quanto é agora. Isto levou a muitas queixas e despertou a minha curiosidade quanto ao assunto. Exponho minhas reflexões a partir de agora.
A atual edição contou com nomes como: Ivete Sangalo, Claudia Leitte, Glória, Kate Perry, Rihanna, Kesha e Shakira. Todos estes no palco principal, muitos destes nomes têm um nível qualitativo altamente discutível e pouco tem a ver com o Rock. Isso foi considerado uma ofensa por muitos dos mais ferrenhos defensores do estilo. Porém, vem à tona a pergunta: O que é o rock? O rock vem se reinventando constantemente com o passar do tempo e adquiriu diferentes roupagens e rótulos intimamente ligados às épocas e contextos em que era executado. Elvis Presley já foi o maior dos ícones rock. Os Beatles também já o foram. Tivemos o movimento Punk neste meio tempo, muitas bandas de Heavy Metal, Grunge, retornamos ao rock britânico... Enfim, o rock já esteve em evidência por meio de muitas ramificações e de muitas figuras emblemáticas ao longo de sua história, muitas delas completamente distantes umas das outras em suas atitudes e características, entretanto todos estes são “rockeiros” e todos estes estilos “discrepantes” são o rock. Então, acho que é o momento de dissolvermos a ilusão de que o rock é o estilo musical “puro sangue”, membro de uma casta superior  e que não pode ser profanado sob quaisquer circunstâncias. O rock atual é muito mais pop, porque o mercado assim pede, era muito mais fácil protestar e ser rebelde há trinta anos, ou pelo menos era muito mais coerente, pois manter-se vivo sob aquelas circunstâncias era extremamente difícil. O rockeiro era uma espécie de porta voz popular, ser transgressor era justo, era contra-atacar o “sistema”. Mas agora o “sistema” afaga nossos egos e apesar de todas as dificuldades do mundo atual, manter-se vivo tornou-se relativamente mais fácil e o mundo tornou-se muito mais cômodo. Então, os protestos, as idéias se perderam em meio a comodidades e demandas mercadológicas. As bandas atuais têm que ser corretas, adequarem-se ao mercado e serem perfeitamente manobráveis. Como compensação elas não precisam ter talento. A reclamação de que não houve uma presença marcante do “rock clássico” é sim procedente, porém, os “rockeiros clássicos” estão no passado, eles estão mortos ou cansados, a maior prova disso foi a participação de Axl Rose no próprio Rock in Rio, o tempo cobra seu preço de todos. Com os astros não é diferente, eles não são deuses. O “neo-rock” então ganhou espaço e as grandes figuras do “neo-rock” não são mais engajadas em causa alguma, ou quando são, são altamente pacatas e intelectualizadas, descobriram que também se ganha lutas pela diplomacia. O grande objetivo destes poucos indivíduos é salvar o mundo, quase nada de brigas políticas ou algo que o valha, o que se quer é salvar o mundo, na falta da possibilidade de salvarmos nossas vidas (individualmente). Apesar de tudo, ainda há rock bem feito nos dias de hoje, mas pouco pode se esperar de engajamento e de extravagância e também muito pouco de qualidade. Raras são as boas bandas do estilo, criadas nos últimos 10 anos, porém, elas existem e reconhecer a qualidade das mesmas é mais válido que parar no tempo e resmungar porque nossos “heróis” não quebram guitarras no palco.
Além da escassez de grandes nomes do rock no festival, uma manobra de mercado foi determinante para a evidente ”desvalorização” do rock neste festival. Suas edições mais antigas tiveram uma maior média de público. Com isso não quero dizer que não tivéssemos um enorme número de pessoas interessadas em estarem presentes nas apresentações. Porém, no mundo altamente normatizado em que vivemos, talvez não tenhamos jamais condições de presenciar um festival onde existam 200 mil espectadores ou mais. Mas, apesar da “queda” no número de presentes na platéia é necessário manter uma margem de lucro considerável, então, majora-se o valor dos ingressos. Para evitar um fracasso estrondoso nas vendas e na captação de receita faz-se necessário apelar para artistas populares e então, tem-se um sucesso enorme no quesito comercial e controvérsias incomensuráveis fomentadas pelos interessados nas atrações. Duas situações me parecem claras. Primeiramente: O rock por si só não enche festival nos dias de hoje, algumas bandas enchem seus shows por terem públicos fiéis, mas quando se trata de festivais, a questão é mais grave e com esta pobre safra do rock, fica difícil termos um festival “genuíno”.
Segundo: Os nossos grandes ídolos se foram ou envelheceram, as bandas novas tem novas posturas e não há ser humano perfeito. Cobrar condutas que se adéqüem por completo a nossos anseios é insensato e é garantia de frustração. Acordem! Os “semi-deuses” são tão mortais como nós e não adianta refutar este fato.
Obrigado e até a próxima.

13 comentários:

  1. Não tenho dúvidas de que faço parte da legião dos (me atrevo a dizer) milhões de insensatos que se frustraram esperado algo a mais do Rock in Rio. Assusta mesmo perceber que as profecias do poeta continuam a se realizar: “meus heróis morreram de overdose...”.
    E contrapartida, me pergunte: Se vc estivesse no lugar de Roberto Medina faria diferente??? NããooO!!! Todo mundo quer dinheiro e eu tbm, é claro!!! Kkk
    O texto merecia estar no A Tarde ou mesmo no Jornal Metrópole (na Folha de São Paulo ou até traduzido pro New York Times!). Suas obras têm tomado proporções cada vez mais profissionais. Até Albergaria poderia concordar comigo. Não duvide!
    Abraço,
    TH.

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  2. Vlw, meu brother. A importância do seu apreço não pode ser avaliada ou descrita. Muito obrigado mesmo e espero um dia poder fazer valer os elogios que você hoje me atribui. Abraço.

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  3. Adorei sua postagem. Seu comentário é bem fundamentado. Concordo com TH essa postagem deveria estar em destaque nos jornais. Parabéns!

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  4. Muito obrigado Lívia. Acho os elogios um tanto quanto exagerados, mas, fico contente pela sua apreciação.

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  5. o que falar desse ser tão expressivo?
    um texto simplesmente brilhante... Digno de ser publicado em revistas e jornais...
    Cara, parabens pela postagem.. Nao vou me estender para nao perder o brilho do seu texto...

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  6. Obrigado Fábio. Saiba que não tenho palavras para expressar a minha satisfação.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. ficou bom!! poderia dizer muuuito mais , porem seria "um tanto quando exagerado" e nao gosto de ver meus elogios desvalorizados!! (mesmo por que nunca os faço sem a devida sinceridade fundamento!
    As respostas que você deu a alguns dos coments denota falça modestia!!

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  9. Obrigado pelo elogio. E quanto a crítica, sinto-me na obrigação de discordar, pois, a modéstia não é falsa. Estou razoavelmente contente com o nível das postagens, mas sinto que elas podem e devem ser ainda melhores e só ai, elas serão dignas de publicação em jornais como citado acima. Mas, ainda assim, obrigado.

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  10. Só mais uma coisa: Tenho sido plenamente sincero ao responder os comentários de todos, mas se o teor de minhas respostas tem sido ofensivo de alguma maneira, gostaria de desculpar-me publicamente. Gostaria que todos soubessem que em nenhum momento quis depreciar ou desvalorizar a opinião de quem quer que seja.

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  11. pois é ...todos quando dizem ser digno de jornais estão sendo sinceros,daí nao podem estar sendo exagerados, ou estariam mentindo, pois sim ,é digno de jornais ou revistas ,mesmo por que os mesmos não são coisas tão grandiosas assim. (ainda mais os de hoje em dia). por ai fica claro que os elogios são bastantes simples, nao havendo nenhum exagero nisso. a nao ser que vc ache que os jornais, revistas ou qualquer forma de midia sejam divindades>

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  12. Bem Elton...
    Eu em nenhum momento senti o teor de suas respostas ofensivas... Pelo contrario, sempre dispondo da maior gentileza possivel que um homem poderia usar.
    Sendo assim, achei um tanto quanto "inútil" esse tal comentário.
    mas cara, nem liga... Você nao ofendeu ninguem, apenas respondeu à altura os elogios...
    =D

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  13. Obrigado Fábio. Como não vejo qualquer serventia neste "debate", encerro aqui a minha participação no mesmo.

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